As Fortalezas do Rio Grande do Norte: Ponta Negra e Redinha

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares


Fortim de Ponta Negra

Tal como os outros fortins construídos no Rio Grande do Norte no século XIX, o Fortim de Ponta Negra tinha como objetivo proteger a colônia de uma possível invasão francesa, liderada por Napoleão Bonaparte. Era preciso proteger o território, especialmente Natal, considerada porta de entrada do Brasil. No documento escrito pelo governador José Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque a fortificação da enseada de Ponta Negra era a primeira ação que deveria ser tomada. E isso faz sentido, lembrando-se da história da invasão holandesa que é na praia de Ponta Negra onde desembarcam os navios inimigos para, depois, tomarem a cidade e o Forte dos Reis Magos. Diz ele: “Primeiro fortifica-se a enseada de Ponta Negra, fazendo-se-lhe uma fortaleza, ou ao menos uma bateria com peças de grosso calibre [canhões], que varra toda a dita enseada, principalmente a 1/2 légua, que oferece bom desembarque ao inimigo”. Contudo, apesar do pedido de construção de uma fortaleza, ele explica que um fortim já existe. “Porque as circunstâncias ainda não permitem poder-se fazer maiores despesas, mandou o dito governador construir um forte de faxina revestido de pedras, para nella laborarem 4 peças”.

Segundo Augusto Fausto de Souza, Ponta Negra foi levantada em 1808 e ficava a 2 léguas a oeste da Forte dos Reis Magos. Em quilômetros, essa distância dá mais ou menos 13,2 km. Vejamos o mapa abaixo:

Além da localização, não temos muito mais informações sobre a antiga casa de guerra da praia de Ponta Negra. A notícia dada por Augusto Fausto de Souza, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 1885, diz que ela estava abandonada há muitos anos, provavelmente também após a a abdicação de D. Pedro I, quando os regentes cortaram os fundos para a manutenção das praças, e “provavelmente inteiramente arruinada” já no início do século XX. Se havia algum registro arqueológico, deve ter sido destruído pela especulação imobiliária na região desde que Ponta Negra tornou-se centro do turismo potiguar a partir da década de 1990.

Forte da Redinha

Outra praça de guerra potiguar que desapareceu é a que ficava na Praia da Redinha. Porém, ao contrário das outras, ela não parece ter sido construída no século XIX. Segundo Anthony Knivet, um inglês que visitou Natal em 1602, haviam dois fortes à margem do rio Potengi, cada um possuindo vinte peças de ferro, ou seja, havia um forte na Redinha tão grande quanto o Forte dos Reis Magos. Nas palavras do cronista: “Feita a conquista, o capitão-mor construiu dois possantes fortes perto da cidade, à margem do rio”. No mapa abaixo, extraído da Relação das Praças Fortes, escrita por Diogo Campos Moreno, em 1609, vemos uma construção na Redinha que, no entanto, não corresponde a descrição feita pelo inglês.

Contudo, quando no século XIX, o rei português, preparando-se para invasão napoleônica, levanta as defesas do litoral potiguar, a construção já existe e o governador pede ao rei meios para transformá-la em uma verdadeira fortaleza. Diz José Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque em seu Memórias: “Segundo, fazer-se outra fortaleza na margem do rio, no lugar denominado Redinha, que cruzando com a da barra, defenda a entrada dela; e pela mesma razão acima mandou o mesmo governador construir outro igual forte da mesma maneira”.

O que provavelmente aconteceu aqui é que as duas construções foram erguidas juntas. Reis Magos e Redinha, as duas fortalezas de taipa, como era a de Reis Magos até ter sua muralha reconstruída com pedra, a partir do projeto do jesuíta Gaspar de Samperes. Na Redinha, e isto é uma especulação que só pesquisas arqueológicas poderiam comprovar, teria permanecido o forte de taipa. É este que, no século XIX, o governador quer fundos para erguer sua muralha de pedra. O que ele não deve ter conseguido já que a fortaleza continuava funcionando. Não temos notícia sobre o encerramento das atividades do Forte da Redinha, mas ele também deve ter sido abandonado após a abdicação de D. Pedro I.


Para Saber Mais:

Augusto Fausto de Souza. Fortificações no Brasil.

Diogo Campos Moreno. Relação das Praças Fortes do Brasil.

Edison Cruxen. A arquitetura militar portuguesa no período de expansão ultramarina e suas origens medievais.

José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque. Memória relativa à defesa da capitania do Rio Grande do Norte.