Alecrim: Assembleia de Deus

Por Profa. Suzane Corsino e Prof. Dr. Lenin Campos Soares


Joseph Seymour

De influência norte americana, o Pentecostalismo vem crescendo no Brasil. Iniciado em 1906, pelo trabalho do americano Joseph Seymour, no Kansas, EUA, o movimento primeiro ficou conhecido como o Avivamento da Rua Azuza, tornando-se um fenômeno mundial em menos de cinquenta anos um fenômeno mundial. O Pentecostalismo é um movimento que surge dentro das igrejas batistas, com ênfase na relação direta e pessoal com Deus, sem a intermediação de padre ou pastor; nos dons da profecia e no batismo no Espírito Santo. Eles defendem que seu movimento reflete o mesmo tipo de adoração e os ensinamentos que eram dados no cristianismo primitivo.

Nos primeiros avivamentos, o papel das mulheres era grande, já que “os dons do Espírito Santo desceram sobre homens e mulheres”, o que fez com que as igrejas batistas rejeitassem o movimento. Fundam-se então três igrejas: em 1907, a Igreja de Deus (em Cleveland); em 1911, a Assembleia de Deus e, em 1927, a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular. Todas com uma participação significativa de mulheres, especialmente como missionárias. Porém, a partir da década de 1930, essas igrejas começam a pregar um papel mais tradicional para a mulher, retirando delas os lugares que antes ocupavam.

Por causa das pregações sobre o Segundo Advento, era importante para os pentecostais a atividade missionária. Antes do retorno do Messias e o estabelecimento das profecias do Apocalipse, era importante divulgar o Evangelho ao maior número de pessoas. Com isso, escolas missionárias e viagens para todos os continentes tornaram-se centrais no movimento desde sua fundação.

Missionário Gunnar Vingren

Os missionários que trouxeram a pregação pentecostal para o Brasil foram os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg que iniciaram sua aventura em Belém/Pará. Eles chegaram a cidade como missionários batistas, e ficaram hospedados no porão de um pastor da mesma denominação, porém conforme pregavam a fé pentecostal, foram expulsos da igreja, junto com mais dezoito membros, e eles fundaram então um novo grupo, em 1911, chamada Missão da Fé Apostólica, que em 1918, tornou-se a Assembleia de Deus.

No ano da criação oficial da Assembleia no Brasil, a mando dos missionários suecos, chegou em Natal um missionário: Adriano Nobre. Conta Emílio Conde, que os cultos já se realizavam na cidade na casa de particulares (o primeiro culto havia se dado naquele ano na casa do soldado Luís de França, na Rua do Arame, sob liderança do irmão Francisco Cézar, mas Cascudo afirma que famílias vindas do Pará trouxeram o culto em 1914). E, havendo muitos convertidos desejando serem batizados nas águas, foi enviado a capital potiguar o pastor Nobre, que realizou o ritual nas águas do Potengi. Temos a lista dos primeiros batizados: Joaquim Batista, Josino Galvão, Luiza Fernandes, Alexandrina Fernandes, Francisco César, Antônio Felipe Bezerra e sua esposa.Luizinha

Pastor Adriano Nobre

Porém, Adriano Nobre não permanece em Natal, nem funda uma sede. Isso se dá somente com a chegada do pastor José Morais. É na sua casa, na Rua América, que se localiza o primeiro local de culto da Assembleia de Deus no Estado. Posteriormente, em 1924, o templo é transferido para a Rua Amaro Barreto n° 40, sob a direção do pastor Bruno Skolimowski.

Conforme a quantidade de membros foi crescendo, houve necessidade de ampliação e reestruturação do prédio, já em 1930. Na gestão do pastor Gonzaga teve-se a iniciativa de vender o imóvel que se encontrava na Rua Amaro Barreto para construir um novo templo, maior e mais moderno. O projeto foi aprovado, desenvolvendo, aos fiéis, em 1937, o Templo sede da Assembleia de Deus em Natal (IEADERN), na Rua Manoel Miranda n° 1425 (que até hoje se encontra no mesmo lugar).

É a partir de Natal que o movimento pentecostal avança nas cidades do interior do Rio Grande do Norte, porém como afirma Sérgio da Silva, já haviam cultos sendo realizados em Cuité, por exemplo, desde 1911, sob coordenação do ex-seringueiro Manoel Luiz de França. O primeiro culto acontece em Ceará Mirim, pelas mãos de Alexandrina Fernandes e sua filha Luíza, em 1919; no ano seguinte, em 1920, em Nova Cruz, na casa da família Menezes, cujo filho mais velho, José Menezes, havia se convertido na capital. Em Ceará-Mirim, os cultos liderados pelas mulheres foi intensamente combatido pelo padre da paróquia, com discursos inflamados no púlpito. O Padre Paulino chegou a organizar uma procissão até a casa das mulheres.

Leiamos o relato de José Menezes:

“O padre convidou o povo, para, no domingo, dia 21 de março [de 1920], fazerem procissão, e rezarem terço, e levantarem uma cruz em frente a casa de cultos da Assembléia de Deus . .Era voz corrente que o povo estava exaltado e sedento de vingança; só se falava em revolução contra os protestantes. Nós estávamos confiantes nas promessas do Senhor e orávamos continuamente de joelhos.

No dia 21, às 13 horas da tarde, o sino começou a tocar, foguetes subiram ao ar, sinal do início do ataque. Formou-se a procissão; às 16,30, cèrca de trezentas pessoas, tendo a frente o padre, uma cruz e bandeiras, a multidão dirigiu-se para a casa de cultos, dando vivas aos deuses estranhos, em meio a uma algazarra infernal. Nós os crentes, ficamos do lado de fora da casa sem qualquer receio; nossos corações estavam cheios de alegria, e do poder de Deus, em razão do conhecimento da graça e da salvação”.

Um evento importante que aconteceu na Assembleia de Deus, em Natal, foi a 1ª Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil. Ela ocorreu com a presença de 18 pastores e missionários de todo o país, entre eles Vingren e Berg, os fundadores do movimento no Brasil; Nessa convenção, entre os temas tratados, foi decidido que os missionários estrangeiros seriam enviados para o Sul/Sudeste para desenvolver as igrejas, enquanto o Norte/Nordeste permaneceria sob coordenação dos pastores brasileiros. E também se discutiu o papel feminino na Igreja. Foi nesta convenção que ficou decidido que as mulheres iriam retornar aos papeis mais tradicionais, não sendo mais permitido que elas coordenassem grupos, como vimos acontecer em Ceará-Mirim.

1ª Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil