Dia da Consciência Negra

Por Prof. Esp. Mateus Souza

No dia 20 de Novembro comemora-se o dia Nacional da Consciência Negra. Esse dia foi instituído através da Lei n° 10.639, no ano de 2003, porém sua origem deu-se em 1978, quando o Movimento Negro Unificado (MNU) se reuniu em Salvador para celebrar a Consciência Negra no mesmo dia em que Zumbi dos Palmares foi morto. Zumbi tornou-se um símbolo na luta contra a escravidão, posteriormente se tornou símbolo contra o racismo, uma consequência de uma prática que durou quase 400 anos.

O Racismo contra o negro é resultado da escravidão. Silvio Almeida, no livro “Racismo Estrutural”, mostra como nossa sociedade não só normaliza determinadas práticas, como excluir e segregar pessoas por causa do Racismo, mas também as estimula a partir de práticas cotidianas. A exclusão social ocorre em todos os espaços e em todos os âmbitos da sociedade. E a legislação brasileira é falha nesse aspecto, ponto que Silvio Almeida chama a atenção, já que historicamente todo o judiciário brasileiro é branco e sempre esteve nas mãos das mesmas famílias. Não há como o judiciário mudar se quem o controla e pode transformá-lo também é parte desta estrutura racista que permeia toda a sociedade.

Outro ponto a ser destacado é como o Racismo opera. Ele é sutil e ao mesmo tempo é escancarado, está no contexto, no duplo sentido de uma frase, no segurança que segue uma pessoa no mercado e só para quando este chega ao caixa e paga; no policial que revista a bolsa sem motivo; está na hipersexualização dos corpos pretos, nos comentários do tiozão do churrasco sobre características físicas de mulheres negras e no medo que pessoas tem ao ver um homem negro na rua.

Depois da morte de George Floyd em maio desse ano, nos EUA. O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) ganhou força e tornou-se o maior ato contra o Racismo desde as lutas por direitos civis nos anos 50 e 60. Algumas mudanças ocorreram graças às manifestações e isso é importante, mas, provavelmente, a maior mudança é que a sociedade tem visto que não são casos isolados, mas que milhares de negros morrem por causa do Racismo diariamente.

No nosso país, o mesmo acontece. milhares de negros, homens e mulheres, morrem diariamente, vitimados principalmente por instituições que deveriam protege-los. O combate ao crime e ao tráfico nada mais é que uma reformulação das políticas de embraquecimento higienistas do século XIX (neste século a política publica era o extermínio da população descendente de povos escravizados, especialmente através da pobreza e da fome, enquanto se estimulava a imigração de europeus, especialmente os italianos e alemães). Disfarçada de “Guerra contra as drogas” é mais fácil programas sensacionalistas usarem o moralismo e acusarem sem provas que tentar mostrar a injustiça e o descaso da polícia. O Rappa tem uma música intitulada “todo Camburão tem um pouco de Navio Negreiro" e isso, no nosso país, é um projeto, desde o processo de abolição a cidadania e acesso a instituições do estado não ocorre, quando ocorre é na base da luta e da persistência. Evitar que as populações negras tenham acesso aos direitos que um cidadão branco possuí é uma forma de tentar exterminá-la.

Caco Barcellos, no livro Rota 66, mostra todo o esquema existente na cidade de São Paulo, desde a década de 1960 até 1980, onde mais de 2 mil pessoas  (pretas, pobres e periféricas) foram mortas por um único batalhão da Polícia, qual a consequência dessa reportagem investigativa? Nada  a ROTA ainda é usada politicamente (Dória e Covas) A maioria dos policiais investigados e denunciados entraram na política, pouquíssimos foram presos e até hoje as famílias buscam por justiça. Não são casos isolados!!!

Na madrugada do dia 20 de novembro de 2020, num supermercado do Carrefour em Porto Alegre um homem foi morto por seguranças. Depois do caso, buscaram-se motivos para o crime, não existe justificativa. A polícia investiga inclusive se havia alguma rixa anterior entre os seguranças do supermercado e a vítima. Tudo isso para desviar a atenção do problema, do Racismo. E esse caso só repercutiu porque filmaram, será que é o primeiro? Uma rede de supermercados que têm casos recorrentes de Rascismo será punida?

A militância no Brasil hoje se resume a hashtags e “batidas de textão" em redes sociais, quando os TT’s se transformarão em protestos, atos políticos, união de movimentos negros (independente de partido) ? É difícil saber. Quando chega o dia 20 de Novembro, meu sentimento enquanto homem negro nesse país é de raiva, porque não adianta bater textão hoje e não fazer uma autocrítica, baixar a bola, estudar, correr atrás de aprender a como melhorar e tornar-se menos racista. Até pq são pouquíssimos negros que conseguem participar e ter voz em discussões acadêmicas e sei que a maioria dos leitores serão brancos. Pesquisem!!! E se tornem antirracistas! Hoje, não adianta não ser racista, é preciso ser antirracista.

Para saber mais:

Abdias do Nascimento. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado.

Djamila Ribeiro. Feminismo negro para um novo marco civilizatório: uma perspectiva brasileira.

Djamila Ribeiro. Quem tem medo do feminismo negro?

Djamila Ribeiro. O que é lugar de fala?

Lélia Gonzalez. Lugar de negro.

Lélia Gonzalez. Racismo e sexismo na cultura brasileira.

Sílvio Almeida. Racismo estrutural.