História da Arte Potiguar: Escultura Maneirista

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

São Joaquim (Museu de Arte Sacra)

São Joaquim (Museu de Arte Sacra)

Um dos estilos que compõem a Arte Colonial brasileira é o maneirismo. Esta palavra, maneirista, significa exatamente “a maneira de” e fala de um estilo de arte que não se interessava em fazer algo que fosse uma cópia de uma forma fixa, um modelo, este tipo de arte inventou a impressão de uma característica pessoal do artista no seu trabalho. A escultura maneirista tem como grande percursor Michelângelo, que foi o primeiro a realizar pinturas e esculturas impondo o seu estilo pessoal, porém, ironicamente, são os modelos criados pelo pintor, arquiteto e escultor italiano que serão copiados por outros artistas. Com a ascensão da Reforma Católica, para combater a Reforma Protestante, também o estilo maneirista acaba sendo muito mais controlado/censurado pelas instituições do que o Renascimento jamais fora. Se preocupava muito em o que seria construído ou esculpido, que mensagem essas manifestações artísticas estariam passando para o povo.

Em Portugal, o maneirismo começa em 1550, e tem três fases: a inicial, chamada de à maniera italiana; a segunda fase, chamada de Triunfo da Bela Maneira; e uma terceira fase, cuja influência da Reforma Católica se fez sentir, cuja influência flamenga e francesa é bem maior que a italiana. São os jesuítas quem trazem este estilo artístico para o Brasil, que se encaixava perfeitamente nas intenções da ordem. Como os jesuítas haviam sido criados para combater a Reforma, e o maneirismo permitia expurgar da escultura a influência pagã que o Renascimento tinha elevado, isto é, deixar fazer cópias de esculturas de deuses pagãos que era o que estava na moda e começar a construir um estilo para as imagens dos santos.

Seu modelo básico das esculturas é uma figura serpentinada e triangular, isto quer dizer que ela se baseava cuja linha sinuosa pretendia dar movimento a imagem e no peso maior na parte inferior da imagem do que na parte superior. Esta necessidade de movimento, de desequilíbrio e reequilíbrio, expressa o fim da serenidade renascentista instituída pela Reforma protestante. O Maneirismo, e mais tarde o Barroco, são estilos que manifestam a inquietação, o desconforto, a ambiguidade, por isso as estátuas parecem precisar da um próximo passo ou trocar a perna de apoio. Isto representa a necessidade que o mundo católico estava vivendo de se transformar após as críticas luteranas.

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A maior parte das esculturas que estão no Museu de Arte Sacra de Natal são do século XVII e são classificadas como como maneiristas. No entanto, são do período mais tardio do maneirismo português. Feitas em madeira policromada, isto é, colorida, em quase sua totalidade, e com apliques de metais nobres como ouro, como podemos ver no exemplo da escultura de São Joaquim.

São Joaquim é o pai de Maria, avô de Jesus, cultuado sobretudo pela Igreja Ortodoxa Grega, as referências da Igreja Católica Romana são poucas, dando-se mais atenção a sua esposa Santanna, porém a partir do século XV houve um aumento significativo de seu culto entre os católicos. Vemos na escultura do museu, que ele perdeu uma mão que provavelmente segurava um cajado, como as figuras dele costumam ter. Também vemos que seu joelho se projeta, na tentativa de criar um movimento dando exatamente a forma serpentinada que caracteriza a escultura maneirista.

A escultura de São Joaquim é provavelmente uma imagem retabular, ela servia para ficar num dos altares laterais de uma igreja, porém ela provavelmente é de confecção erudita, seguindo as tendências da terceira fase do maneirismo português (que tem mais movimentação de braços e pernas, tentando expressar mais dramaticidade. Seu material, a madeira, indica que ela é de uma produção do litoral, no interior do país, era o barro a principal matéria prima para as imagens, e pela decoração das vestimentas do santo, talvez a Bahia seja o local onde o artista vivia ou ele teria se inspirado no panejamento bahiano.

Para Saber Mais:

Arnold Hauser. O Conceito de Maneirismo.

John Bury. Arquitetura e arte no Brasil colonial.

Raphael Fabrino. Guia de indentificação de arte sacra.