Os Homens e Mulheres de Arda

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

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Apesar da historiografia clássica do Rio Grande do Norte minimizar a presença negra e indígena no Estado, argumentando que o trabalho de pecuária não necessitava do braço escravo, pesquisas mais recentes indicam que pelo menos 36% da população do Estado era composta por escravos até o século XIX. Se compararmos com outros estados do Nordeste, em Pernambuco, a população escrava corresponde a 9,56%; enquanto no Ceará, a população escrava é 4,2%. Obviamente o número de habitantes das províncias de Pernambuco e Ceará eram maiores que a população do Rio Grande, e exatamente por isso o impacto deste número de escravos é muito maior na nossa sociedade.

Esta população escrava é composta por africanos e por indígenas. Carmen Aveal e Dayane Dias calculam que, para os séculos XVII e XVIII, os escravos oriundos da África ocupam uma parcela de 79,23% da mão de obra escrava. É também através da pesquisa delas, feitas nos livros de batismo das igrejas católicas potiguares, que sabemos que 76% desses homens e mulheres era de origem da Guiné, enquanto 24% tinham nascido em Arda.

A população oriunda da Guiné eram de origem iorubá. Os iorubás eram um civilização marcadamente urbana na África. Viviam em grandes cidades como Ifé, a capital religiosa, Keto e Oió, a capital política. Cada cidade era independente uma da outra, formando Cidades-Estado, com avenidas largas e planejadas e grandes mercados, extremamente movimentos. As margens do rio Niger e do Lago Volta, suas cidades tinham contato com produtos trazidos pelas caravanas de Mali, que cruzavam o deserto do Saara, e trocavam pelos produtos da floresta e seu trabalho com metalurgia. Apesar de não responderem a uma autoridade política única, os governantes iorubás respeitavam o Oni, um líder religioso que governava a cidade de Ifé. A benção deste rei-sacerdote era buscada por todos os governantes que assumiam as cidades-Estado. Sem o reconhecimento do Oni, a autoridade de um rei poderia ser facilmente questionada.

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A população oriunda de Ardra, hoje conhecida como Benim, é de origem fon ou daomé. Segundo as tradições orais dos fon, eles são nativos daquela região, saindo da cidade chamava Allada para Dogbari e depois Daomé. Uma outra importante cidade será Ouidah, cujo nome significa “onde se vendem homens”, que vai se tornar um importante porto de embarque de escravos para a América. Com uma cultura fundada com base na guerra, os fon eram especialistas em atacar outras tribos africanas para vendê-las como escravos para europeus. São os daomé que reúnem os malês, da fronteira norte do seu reino, e os iorubá, com quem dividem a região, para vendê-los em Ouidah.

Seus padrões de gênero confundiram profundamente os europeus nos primeiros contatos, os homens casavam com várias mulheres, eram responsáveis pela preparação da terra para o cultivo, além da caça e da pesca. enquanto isso as mulheres eram responsáveis pela manutenção da lavoura e da colheita (seus principais produtos agrícolas eram o inhame e o óleo de palma). Mas, além disso, as mulheres algumas tribos eram formadas apenas por mulheres, as famosas Amazonas de Daomé, eram extremamente ferozes na guerra, participando de batalhões ao lado de homens. Veja mais sobre elas aqui.

Para saber mais:

Carmen Aveal e Dayane Dias. Um estudo sobre a população da capitania do Rio Grande do Norte com ênfase na escravidão negra e indígena no contexto da Guerra dos Bárbaros (1681-1714)

Luís da Câmara Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro.

Zuleica Campos. De Xangô a Candomblé: transformações no mundo afro-pernambucano.