Igreja de Santo Antônio dos Militares

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Por Prof. Dr. Lenin Campos Saores

Nossa mais bem conservada igreja barroca, mas não a única (falaremos mais sobre isso em outros posts), é a Igreja de Santo Antônio construída em 1766. Mas, primeiro, o que é barroco mesmo? A palavra vem do italiano e definia lá no século XVII uma pérola mal formada, de formato “caprichoso”. Na história da arte, ele é um estilo artístico, sobretudo arquitetônico, que se difundiu nos países católicos no século XVII, tendo sua maior expressão nas nações ibéricas, Espanha e Portugal. Obviamente se estava na moda na Corte, é claro que também estaria na moda na colônia. Portanto, a arte colonial brasileira é basicamente influenciada pelo gosto ibérico pelo Barroco.

Nas cidades mais ricas, como Olinda, Recife e Salvador, e mesmo em vilas como Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais, grandes artistas criaram obras de arte espetaculares, mas em cidades menores como Natal, as igrejas, apesar de apresentarem os traçados barrocos, exibiram talhas modestas, por causa do fluxo de artistas menos habilidosos e/ou experientes. Isto acontece porque a capital potiguar até o século XIX (no ciclo do algodão), nunca teve uma elite muito rica que pudesse investir muito no embelezamento de seus templos. Contudo, ao contrário do que muitos pensam, isso não reduz de maneira alguma a importância arquitetônica da Igreja de Santo Antônio.

Fachada da Igreja com os elementos barrocos assinalados.

Fachada da Igreja com os elementos barrocos assinalados.

Terminada em agosto de 1766, ela já pode ser considerada de um Barroco Tardio, mas apresenta características barrocas como uma única torre que termina em forma de guarita (construída em 1799); o frontão, a parte que fica acima da fachada principal, ricamente decorado; o arremate da fachada em forma de volutas; o uso de pináculos e o altar principal revestido por madeira esculpida.

O barroco tardio se caracteriza pelo uso de mais espaços vazios entre as esculturas decorativas dos prédios, causando, nas igrejas, uma sensação de menor opressão do que o barroco clássico imprime. Em termos práticos isto quer dizer que ao contrário do Barroco clássico, apesar da presença ainda de volutas e do frontão decorado, a presença de espaços vazios é bem mais comum na decoração, seja na sua fachada, seja na sua decoração interna.

Altar-Mor com Santo Antônio entronizado.

Altar-Mor com Santo Antônio entronizado.

A decoração interna da igreja segue também os elementos do barroco tardio. Ela possui dois altares laterais esculpidos em madeira e mais um central e possuía o teto decorado com imagens de Nossa Senhora e do seu santo patrono, Santo Antônio de Pádua. O teto, por  causa da má conservação, teve seus retábulos (quadros pintados) retirados e dispostos nas paredes do Museu de Arte Sacra (do qual falamos aqui) que, no entanto, não tem características barrocas, porque foi pintado pelo menos cinquenta anos após a finalização da igreja.

Altar Lateral com São Francisco de Assis entronizado.

Altar Lateral com São Francisco de Assis entronizado.

Os altares são esculpidos em madeira. Sem aplicações de metal, nem policromia. Decorado com as tradicionais folhas de acanto. O simbolismo da folha de acanto, uma erva mediterrânea, é de que as provações da vida e da morte haviam sido vencidas, por causa dos espinhos que a planta possuí, mas também é o símbolo da terra virgem e, por extensão, também da própria virgindade e da vitória sobre o pecado da carne. Ela aparece nas decorações de templos e palácios desde a Antiguidade e Idade Média, mas também em armaduras, porque os heróis e arquitetos também eram homens que venciam os desafios durante a vida, também apareciam em túmulos por causa da ideia de vencer a morte a partir da vida eterna e, nas igrejas, representando a vitória sobre a carne.

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Segundo Câmara Cascudo, o Capitão-mor Caetano da Silva Sanches, governador da capitania de 1791 a 1800, foi quem mais trabalhou para a igreja ser concluída com a ereção de sua torre. Teria sido ele quem doou o galo de bronze que rebatizou popularmente a igreja com o nome de Igreja do Galo.

Ela possuí um anexo ainda, que hoje serve de convento (desde 1946), mas já teve uma função bem mais mundana. Este anexo serviu de base para os militares da cidade, daí seu nome original, Santo Antônio dos Militares. Ela servia sobretudo de alojamento até 1836. Inclusive era aonde a companhia de Polícia ficava aquartelada, como nos informa Luís da Câmara Cascudo, em seu História da Cidade do Natal.

Quando os policiais deixaram a Igreja, se instalou o Colégio Diocesano Santo Antônio, coordenado pelos frades capuchinhos Cipriano de Ponteccio e Damião de Bozzano. Porém o prédio atual (do anexo) não é o original. Informa Itamar de Souza que em 1946 todo o prédio original fora demolido e reerguido já para abrigar o futuro convento. O prédio atual foi inaugurado em 1º de fevereiro de 1948, com procissão de velas e discurso e bençãos de Dom Marcolino Dantas..

Para Saber Mais:

Itamar de Souza. Nova História de Natal.

Jonh Bury. Arquitetura e arte no Brasil Colonial.

Luís da Câmara Cascudo. História da Cidade do Natal.